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quarta-feira, 24 de abril de 2024

Conto ficcional: Minha estranha experiência trabalhando como caseira

"Fui contratada para tomar conta de um casarão no norte da cidade, os proprietários são dois figurões envolvidos com a política local e estavam em viagem a um congresso, então fiquei encarregada de manter as luzes e câmeras ligadas, para não atrair ladrões à residência.

O quarto de visitas que me arrumaram era pequeno, e eu ainda tinha que dividí-lo com a filha doente do casal, que parece ter algum tipo de tuberculose. Não me importo muito com a presença dela, apenas gostaria que houvessem me alertado para que eu pudesse lhe administrar os cuidados adequados.

Porém, não posso mentir, a convivência é um pouco estranha. Ela não come, não bebe, não a vejo ir ao banheiro e ela não se move quando ofereço assistência. Também não consigo levantá-la, pois apesar de sua magreza, pesa como chumbo.

Contanto, como sempre fico acordada até altas horas para monitorar as câmeras da casa, comecei a perceber um comportamento contraditório a minhas experiências: toda madrugada, às 2:22 da manhã, a menina, que normalmente se assemelha a uma estátua de sal, fica parada em frente à porta do quarto, olhando fixamente para um ponto que não consigo ver, está me deixando bem desconfortável."

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Bukita-Kun e Limerência (do ponto de vista de uma pessoa fora da área de psicologia)

 TW: RELACIONAMENTOS ABUSIVOS, BULLYING, SANGUE, ENTRANHAS E MOLEQUE PENTELHO


Inuki Kanako Zekkyou Collection é um OVA de terror baseado no mangá Bukita-Kun, de Inuki Kanako; sendo este sobre um zumbi adolescente literalmente sem coração e extremamente obcecado com encontrar seu "amor verdadeiro", tomando decisões cruéis e absurdas para conseguir a afeição das meninas por quem se apaixona, muitas vezes a primeira vista.

Limerência é um estado psicológico de interesse romântico acompanhado por uma extrema obsessão e necessidade de correspondência, acompanhado frequentemente de fantasias igualmente obsessivas de que a pessoa por quem o limerente é apaixonado secretamente o corresponde, é considerado um TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo)

Podemos facilmente ver o jovem Bukita como uma alegoria perfeita a um limerente em diversas situações ao longo do OVA, por tanto, para conveniência, irei separar ditas situações e suas associações com o estado de limerência em tópicos.

Tópico 1) Amor (?) á Primeira vista.

Em todos os segmentos (exceto o último), com todas as moças pela qual Bukita se apaixona, a paixão em questão surge de uma ocorrência banal e corriqueira levada pelo cérebro dele à enésima potência; por exemplo: uma troca de olhares, um lenço emprestado, uma conversa de minutos entre outras atividades extremamente comuns. Bukita acaba por interpretar essas atitudes como sinais de interesse, provavelmente devido à já presente rejeição por parte de seus colegas devido a sua aparência desagradável.

Isso é uma característica comum mútua de pessoas isoladas socialmente e pessoas limerentes, pois eventos de interação humana são tão difíceis de ocorrer pra elas que acabam sendo erroneamente interpretados como investidas românticas.

Vemos isso especialmente no primeiro segmento, quando Retsuko olha-o com olhar de desprezo por algum tempo, e o mesmo interpreta o olhar como um interesse oculto e passa a perseguir a menina. O mesmo ocorre no segundo segmento, em que, após acidentalmente assoar o nariz no lenço de Chouko, a mesma fica tão enojada que lhe dá o lenço de presente, e mesmo nunca tendo visto a garota, Bukita interpreta como um gesto amoroso

Tópico 2) Fantasias Irreais

Em todos os 3 últimos segmentos do OVA, sendo importantes para esse tópicoo segundo e terceiro, se torna presente uma distorção no ambiente causada pelos sentimentos de Bukita, e ela pode ser facilmente associada com a ideia que uma pessoa limerente tem sobre os sentimentos de seu objeto de afeição.

No segundo segmento, Bukita prende Chouko em uma espécie de "casa dos sonhos", acreditando e presumindo que a mesma estaria feliz por morar com ele, levando compras pra ela, entre outras coisas. Porém, obviamente, esse interesse só existe para Bukita, já que ela está em pânico absoluta e a primeira coisa que faz é tentar fugir. Há chances da "prisão perfeita" de Chouko também ser uma alegoria para lovebombing, uma tática muito comum que parceiros controladores usam pra manter a namorada ou esposa perto de si antes ou depois de tratá-la muito mal, que diversas vezes é também usada como forma de controle, denotado pela frustração de Bukita com o fato de "meninas, assim como borboletas, sempre voarem embora" e que elas "não deveriam ter asas" (motivado pela Chouko estar conversando com outros rapazes aleatórios no corredor do colégio).

No terceiro, Bukita tenta forçar Risa a "amar" ele por meio de suas pinturas, e se mostra relativamente perverso, tirando as roupas dela enquanto pinta, novamente fantasiando uma vontade que ele tem e ela não, o que faz com ela presumidamente cometa suicídio pra fugir, como todas as outras meninas (exceto pela do último segmento).

Tópico 3) A razão pela qual desviei do último segmento até agora, ou "as consequências de não manter o sentimento de limerência sob controle"

O último segmento do OVA se inicia quando Yumeko, uma garota míope desenhista, tem seus óculos quebrados após Yanase (seu colega de classe) trombar com Bukita na escadaria e derrubá-los em uma brincadeira de mau gosto. Ela quase cai das escadas, e quando Bukita a salva, sem poder vê-lo, ela imediatamente se apaixona por ele.

Bukita, se aproveitando da vulnerabilidade de Yumeko, começa a sair com ela, mandando ele e a mesma para um "mundo dos sonhos" (similar ao de Chouko), onde os mangás que Yumeko desenha são reais, ela é uma princesa e ele um belo príncipe, contrário a sua aparência no mundo real. Porém, Yanase encontra ela em um casarão abandonado, desenhando milhares e milhares de páginas do seu mangá com Bukita, enquanto está dentro das próprias páginas com o mesmo.

Podemos alegorizar isso como a pressão que alguém sente a se involver com uma pessoa limerente em AMBOS os lados, Yumeko se força a manter aquela fantasia irreal pois "os homens na vida real são horríveis" e Bukita mente para ela que é um príncipe bonitão. 

Yanase fica chocado com a situação e coloca os óculos (agora consertados) nos olhos de Yumeko, que vê Bukita por quem ele realmente é, e antes que Bukita possa fazer qualquer coisa contra ela, Yanase espalha as páginas do mangá. Ainda presos no mundo de fantasia, Bukita se dá conta que o coração de Yumeko não pertence a ele, e quem ela realmente desenhava era Yanase. Bukita solta Yumeko, e finalmente morre após Yanase apagá-lo com uma borracha.

Nesse último segmento, podemos ver que Bukita finalmente aceitou que suas idealizações eram irreais, e que ele não poderia enganar a si mesmo fingindo que essas meninas amavam ele quando esse não era o caso. Isso pode facilmente se relacionar com uma pessoa que passou por esses ciclos de obsessão e apego finalmente compreender e separar seus sentimentos dos alheios, entendendo cada pessoa como um indivíduo único, e podendo ter relacionamentos saudáveis e com poucas idealizações, mais humanos. 

Infelizmente isso não acontece no anime, e Bukita é consumido por seus "amores" (na forma de borboletas cintilantes). O estado de limerência pode afetar não somente a saúde mental e física de um indivíduo, tornando-o "viciado em amar", como se ele resolver sucumbir a essa obsessão, ela também vai passar a prejudicar outras pessoas.

É necessário entender os próprios traumas e transtornos pra poder compreender melhor esse sentimento. Aqui, no caso do anime, a obsessão de Bukita com amor se dá pois seus colegas de ambos os gêneros sempre rejeitaram-no, e essas pequenas atitudes sociais acabaram por tomar maiores proporções, como num raciocínio de "se não posso ter amor amigo, terei amor romântico".

Em uma situação mais geral, a limerência pode acabar se desenvolvendo em pessoas que sofreram negligência familiar, o que acarreta em muitos relacionamentos iniciados com a intenção de "preencher o vazio" e dinâmicas não-saudáveis, onde muitas vezes o parceiro acaba fazendo o papel de mãe ou pai da pessoa. Também pode se desenvolver em pessoas que passaram por relacionamentos muito conturbados, como um mecanismo de fuga da possibilidade de ocorrer novamente, o que infelizmente é o que acaba por acontecer, já que a idealização e o medo impedem de ver a situação real.

As melhores maneiras de lidar com esse sentimento, na minha opinião como pessoa leiga, seria obviamente a terapia, e também refletir sobre a situação enquanto se distancia dela.
Tentar pensar "ei, por que eu me sinto assim se essa pessoa nunca falou comigo?", "há alguma prova concreta do que essa pessoa sente?" etc enquanto pratica alguns hobbies de distração mental. Claro que isso não é uma sugestão geral, por exemplo, eu como pessoa autista tenho pouquíssimos pontos de foco, então a melhor maneira que encontrei pra lidar foi analisando e criando esses 'empecilhos', mas com um pouco de pesquisa dá pra encontrar algo que se ajuste melhor a ti.


Considerações finais

Desde a primeira vez que assisti esse OVA queria trazer ele pro blog em forma de ensaio, sem ser uma review de qualidade, apenas como um exercício mental. Essa ideia de usar ele pra debater limerência veio da minha própria identificação com o protagonista quando eu mesma era uma adolescente, e por conta de estar limerente por um rapaz, acabei entrando em um relacionamento abusivo e conturbado. Então meu maior objetivo era colocar uma pulga atrás da orelha de quem se identifica com personagens assim, como um incentivo pra melhoria individual; pois, as vezes, quando temos esse tipo de sentimento, significa que algo não está bem, e pra poder ficar tudo bem, temos que enfrentar isso de cara, antes que nos machuque e machuque os outros.

infelizmente o mesmo não pode ser dito do Bukita, já que o mesmo só se deu conta quando a situação dele já estava bem complicada, e sendo realistas, muitas pessoas confundem limerência com ter crushes, o que torna tudo ainda mais difícil pra quem decide buscar ajuda, já que é simplesmente ignorado como "paixão".

A esperança é que, com o avanço da psicologia, possamos entender melhor nós mesmos e interagir de maneira mais saudável com as pessoas e o mundo ao nosso redor.


segunda-feira, 11 de abril de 2022

Mary & Max: Uma Amizade Diferente (dir. Adam Elliot)

A review de hoje não terá imagem ilustrativa, pois o blogger está com problemas de leitura de arquivos .jpg.

Aviso para: menções a suicídio, menções a problemas familiares, alcoolismo, compulsão alimentar, psicofobia, problemas de autoestima etc.

 Baseado na própria experiência do diretor com um PenPal autista nova-iorquino, Mary & Max (com o subtítulo Uma Amizade Diferente aqui no BR) fala sobre a troca de cartas e a amizade a distância mantida entre Mary, uma menininha de oito anos australiana com uma marca de nascença na testa que pesa muito em sua estima e Max, um homem de 45 anos estadunidense com TEA (Transtorno do Espectro Autista). 

No filme, o TEA é referido como síndrome de Asperger e como uma doença, porém Asperger é um termo vindo de um eugenista e o autismo não é mais considerado uma doença pela psicologia, então irei me referir nesse post a qualquer menção do transtorno como TEA a não ser que o contexto requeira que eu utilize a terminologia Síndrome de Asperger.

REVIEW CURTA (SEM SPOILERS)

É tragicômico, mas mais para trágico do que cômico, e eu não digo isso de forma ofensiva. Cada experiência foi bem retratada no filme, suas representações de adversidades cotidianas e incomuns e como a vida é muito mais trágica do que vemos nas telonas e telinhas é muito boa, são mostradas de forma sensível e ao mesmo tempo crítica, das pessoas que passam por elas e das pessoas que observam. Apesar de ser um filme de humor negro, ter linguagem inadequada muitas das vezes e ter tom bem pesado, eu recomendaria a exibição em instituições de ensino, tanto para ensinar sobre o bullying, transtornos e problemas familiares como para mostrar que mesmo que soframos e achemos que estamos sozinhos no mundo e que ninguém jamais vai se importar conosco, sempre tem alguém disposto a ouvir e conversas que não vai pensar mal de nossos problemas e pode ser nosso amigo, independente de nossas diferenças, idades ou localizações.

Nota 8.5/10

REVIEW E RESUMO (SPOILERS)

O filme começa diretamente na Australia, com imagens de stop motion da vida suburbana australiana de 1976, e inicia com o narrador descrevendo a vida de Mary. Em todo este segmento e os segmentos subsequentes da vida de Mary, as cores predominantes são marrom e outros tons de sépia, marrom sendo a cor favorita de Mary e também a cor de sua marca de nascença (descrita pelo narrador como cor de cocô.

Nesse primeiro segmento, começamos a entender um pouco os problemas na vida da personagem, sua mãe é alcoólatra e extremamente viciada em licor, seu pai passa a maior parte de seus dias trabalhando e fazendo taxidermia com roadkill de passarinhos e Mary foi uma gravidez acidental (e é muito possível que com o histórico da mãe ela tenha síndrome alcoólica fetal).

O sépia é um indicativo de um ambiente velho, estragado e monótono, e a paleta não só reflete a paleta de cores favorita da protagonista como a forma que ela tenta ver o mundo apesar de todos os problemas que a vida dela tem. É como uma alternativa mofada de ver as coisas cor-de-rosa, e isso funciona muito bem com a proposta, já que não importam as pequenas coisas positivas na vida de Mary nem quantas latas de leite condensado (sua comida favorita) ela consumir, vai continuar tudo naquele sépia lama nojento e entediante, isso até a troca de cartas com Max, onde pequenos detalhes em vermelho começam a aparecer, denotando um pouco de esperança.

Minhas únicas críticas aos segmentos pertencentes à Mary é que mesmo que se passem vários anos ela não parece envelhecer, e é usado o mesmo modelo pra ela dos 8 aos 12, só mudando quando ela chega na idade de frequentar a universidade (acredito que tenha sido devido a problemas de orçamento), que algumas cenas de stop motion são muito picotadas e dão uma sensação de slideshow com pouco movimento e há uma incoerência entre os anos e as idades que poderiam ter sido calculados com mais cuidado, por exemplo: ao entrar na universidade, de acordo com as datas Mary está com 20 anos, e a entrada normal pra faculdade na Austrália é dos 16 aos 18.

Relembrando um pouco a aparição dos detalhes em vermelho, eles também começam a aparecer no "mundo" de Max, quando Mary lhe entrega o pompom e o frasquinho com lágrimas (ele não consegue chorar), mas antes disso, a vida de Max em Nova-Iorque é completamente cinza e monocromática, sua vida se resume a entrar e sair de empregos e comer cachorros quentes de chocolate, e sua única companhia é a sua vizinha parcialmente cega e as pessoas da reunião de comedores compulsivos que ele frequenta. Max é muito vulnerável a crises de ansiedade e meltdowns, e apenas no segundo ato do filme ele é diagnosticado com Autismo (citado como Síndrome de Asperger).

Ao Mary perguntar pra Max sobre como nascem os bebês e outra linha de perguntas complexas sobre amor, ele tem uma crise prolongada de muito tempo. E Mary, que estava esperando para vê-lo e juntando dinheiro com um emprego de entrega de panfletos, acha que perdeu seu amigo e gasta as economias com uma cirurgia para remover sua mancha da testa.

Max é uma das melhores representações de autistas na mídia, já que ele não é infantilizado, é uma pessoa que tem muita experiência de vida e que age como uma pessoa com sua idade costuma agir de acordo com seu passado e memórias. Ele também não é um gênio, apesar de ter diversos hiperfocos na área da ciência e biologia, lendo com frequência a National Geographic e tendo como físico favorito Albert Einstein (outro autista notório e importante). Porém tenho muito problema com a cena do mendigo, que mostra Max em um ponto de descontrole um tanto exagerado e um pouco destoante do personagem, que até o momento nunca havia agredido ninguém propositalmente.

Os dois recuperam o contato, e em tentativa de "curar" seu transtorno, Mary inicia sua tese sobre a Síndrome de Asperger e lhe dedica uma cópia, o que prontamente inicia a queda rápida da amizade de muitos anos. Max tem um meltdown e arranca o carimbo "M" de sua máquina de escrever e envia à Mary, o que desencadeia uma crise depressiva na mesma, e faz com que ela triture todas as cópias do estudo, desenvolva alcoolismo como sua mãe e faça pompons compulsivamente como uma tentativa de lidar com seus sentimentos. Alguns anos antes, ela havia se casado com seu interesse romântico de infância, um menino grego e gago que era seu vizinho, porém o mesmo se descobre apaixonado por e acaba indo morar com seu próprio penpal quando Mary afunda cada vez mais no alcoolismo, piorando ainda mais a situação.

Mary tenta se matar, grávida, em uma cena catártica acompanhada de um cover melancólico de Que Sera Sera de Doris Day, apenas desistindo ao receber uma encomenda de Max: milhares de bonecos do desenho favorito dela e dele durante seu crescimento, cuja coleção ele enviou como pedido de perdão, e uma carta de desculpas, onde Max fala sobre seu novo emprego de testagem de amostras, ter ganhado na loteria e comprado diversos chocolates e ter dado o restante do dinheiro pra sua vizinha.

Ela e seu bebê acabam por visitar Max em Nova-Iorque, porém ele morreu tranquilamente. Mary olha para o teto e vê todas as suas cartas dês de 1976, dando fim ao filme.

Se houver melhor maneira de representar a vida suburbana, e de como a socialização primária nem sempre é fundação para um desenvolvimento bom, eu desconheço. Brincadeiras á parte, é um filme muito bonito, e com suas piadas de humor negro chega a ser cômico de uma forma quase que cruel, porém sabe ser sério quando quer, e quem vos escreve teve que se controlar muito pra não chorar nessas cenas. É uma obra muito sensível, que merece ser vista e observada com bastante cuidado, e sabe despertar todos os tipos possíveis de emoção ou a ausência dela de sua forma peculiar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caso você esteja buscando por conteúdo maduro, mas que fuja da normalidade da maioria dos dramas psicológicos, Mary & Max é o primeiro da minha lista de recomendações a dar. Da primeira vez que eu o assisti, eu tinha uns 7 ou 8 anos, venderam o DVD pirata para minha mãe dizendo que era infantil (tivemos o mesmo problema com O Cheiro Do Ralo uns anos depois, que minha mãe achou que era comédia pastelão por ignorância, algum dia ainda falarei sobre ele aqui), e ela colocou na tv sem questionar. Como eu era muito pequena não lembrava de muito, então achei que seria uma boa oportunidade para revisitá-lo, agora também sabendo que eu tenho autismo e tendo a vivência familiar e mental adequada pra esse tipo de conteúdo.

Quando eu era guriazinha pensava que nunca ia passar por nenhum destes problemas, que eu ia me formar em medicina veterinária, que minha família me amava muito apesar do divórcio e que as coisas eram muito felizes, hoje me encontro com quase 19 anos sem ter entrado em uma faculdade e desempregada, e cada vez mais minha relação com meus pais se esfarela, tive meu primeiro coração partido e é aqui que eu vejo que a vida não é um rosa pink com glitter coberto de merengue e açúcar, ela é tom sépia, cor de cocô, e a gente acaba tendo que lidar com isso em algum momento.

sábado, 9 de abril de 2022

Microposting #1: A Mecânica Do Coração.




Bem vindo ao primeiro microposting, é um post pequeno que serve pra manter atividade no blog e ao mesmo tempo servir como conteúdo fácil de ser consumido quando o arquivo se tornar mais cheio e houver uma busca maior por posts mais curtos e que não levem tanto tempo pra ler, bom para quem é muito ocupado e ainda sim quer um tempinho de lazer. E o melhor: é completamente livre de parabenos e gorduras trans e saturadas spoilers.

Nesse micropost inicial, vou falar um pouquinho sobre o livro, filme e álbum que estive lendo, assistindo e ouvindo: Jack e A Mecânica do Coração, ou apenas A Mecânica do Coração. É uma mídia que mistura o gótico vitoriano com o steampunk e de certa forma influências do expressionismo, principalmente no filme. O livro é quase um livro-musical, eu o li em português, mas recomendaria a leitura em francês, pois há partes com música e poesia que são essencialmente acompanhadas pelo álbum musical de mesmo nome e história, porém o mesmo não vale para o filme, já que algumas músicas já estão presente nele, e um dos antagonistas fala em prosa.

Tanto álbum quanto livro e filme são de extrema melancolia, é azar atrás de azar, e não importa o cânone que você deseja seguir todos acabam da mesma forma. É conteúdo pra quem gosta de chorar como uma Madalena e fermentar suas lágrimas em licor.

domingo, 31 de outubro de 2021

As Pequenas Margaridas (Sedmikrásky, Dir. Věra Chytilová)

 

As Pequenas Margaridas, ou Sedmikrásky no título original em tcheco, é o terceiro filme dirigido pela roteirista, diretora e atriz Věra Chytilová e é um dos filmes mais importantes da conhecida como nova-onda tcheca ou nouvelle vague tcheca de cinema. Ele é também considerado um dos mais importantes filmes dirigidos por uma mulher, e é tido por ser uma película feminista e de valor político em sua construção e roteiro.

Devido ao ambiente sociopolítico na Tchecoslováquia, Vera inclusive foi banida pelo governo comunista da época por determinado período de produzir filmes e Sedmikrásky teve sua exibição negada em grandes cinemas. Apesar da recepção política no seu país de origem, Sedmikrásky teve bom recebimento no restante da Europa e foi elogiado por muitos críticos (não vou falar do recebimento estadunidense porque foi basicamente só "wahmen bad").

Review base sem spoilers

Visualmente é uma peça de mídia muito bonita, a paleta de cores pastel nos momentos onde o caótico de Marie 1 e Marie 2 é harmoniosa e bela, e muitas vezes tem um ótimo contraste com o ambiente destruído e bagunçado pelas duas, enquanto as cenas de conformação e tédio são organizadas e limpas, com um tom monocromático constante e pouca coisa acontecendo. As cenas de viagem são fascinantes e tem um trabalho fotográfico maravilhoso potencializado pelo uso do RGB, o uso desse efeito em algumas cenas de água corrente também é muito interessante.

Quando fiquei sabendo que uma das atrizes não era profissional antes de iniciar o trabalho no filme, fiquei bem surpresa, pois as atuações de Ivana Karbanová e Jitka Cerhová condizem muito com a energia bizarra das personagens e sua forma de lidar com o ambiente apresentado. O sistema episódico que é usado pra contar as peripécias das Maries casa muito bem com a ideia de quebra de padrões, sendo quase metalinguístico em alguns aspectos.

Compleição da review (spoilers)

Nessa última linha, onde citei que o filme era muitas vezes metalinguístico, a primeira cena que me veio em mente foi a cena das tesouras, onde as protagonistas começam cortando tecido e depois se cortam em pedaços. Ao meu ver, ela parece criar um paralelo, onde no começo é tudo organizado da forma como geralmente é feito e depois se torna a bagunça caótica posterior, e de jeito algum isso é ruim, é mais como uma maneira de extrapolar todas as possibilidades e se ter o melhor de algo sem ter que seguir convenções (tanto que essa é uma cena tida como cômica, divertida e sem muito impacto na progressão do roteiro fora da mensagem final).

Tem sempre essa interação quase exploratória com a comida, as personagens parecem sempre estar desesperadas por alimento, apesar de terem a disposição em seu apartamento diversos comes e bebes. A verdade é que aqui ela é um artifício, simbolizando tanto o impacto do que elas fazem tanto quanto um desfoque de atenção. É visível esse uso no final do filme, onde há a frase "este filme é dedicado a todas as pessoas que se sentem perturbadas por uma alface pisoteada", estamos sendo direcionados a prestar mais atenção na comida sendo estragada, nas coisas sendo quebradas do que os ambientes que elas frequentam, suas atitudes realmente ruins (extorsão, roubo, manipulação) e os tipos de homem que exploram (homens mais velhos, muitas vezes casados e traindo suas esposas). Sedmikrásky não tem heróis nem vilões, mas anti-heroínas usando das dificuldades que enfrentam a seu favor, e essencialmente fazendo contra o mundo o que o mundo fez contra elas.

Conclusão

Recomendo As Pequenas Margaridas para qualquer pessoa interessada no sistema sociopolítico do leste europeu nesse período, pessoas com gosto por filmes que saiam da linha popular de produções audiovisuais e também para aqueles que só querem um banquete visual.

quarta-feira, 5 de maio de 2021

O futuro geral deste blog.

 Bem, já faz um bom tempo que não publico aqui, fará dois anos mês que vem (ou no seguinte? Nem sei mais!), então decidi dar um uso cabível ao blog e tentar postar de forma regular. 

O que eu irei postar? Bem, irá variar um pouco. 

Estou pensando em criar uma agenda de conteúdos, dias específicos para cada coisa, então aqui uma base e minha idéia de funcionamento:


SEGUNDA: DIA LIVRE/DIA DA RECOMENDAÇÃO

Esse dia é o dia que tirarei pra realizar tarefas importantes e é um dia para os leitores (vocês! :)) poderem me recomendar conteúdo via e-mail (presente na lateral direita). Por conteúdo quero dizer qualquer coisa, mas vou dar prioridade a filmes e séries, que é o propósito inicial da reformulação do blog. 

TERÇA: REVIEW DE FILME 

Esse será o dia em que as reviews de filme padrão serão publicadas. Haverá nota e nível de recomendação.

QUARTA: REVIEW DE EPISÓDIO DE SÉRIE

Review de episódio de alguma série que eu esteja acompanhando, caso não haja nenhuma será substituída por uma recomendação de leitor.

QUINTA: TWILIGHT ZONE THURSDAY

Review de episódio de Além Da Imaginação, irá do ep. 1 da série original até os episódios da série do Jordan Peelee

SEXTA: REVIEW DE RECOMENDAÇÃO

Nesse dia irei escolher uma recomendação de leitor para assistir e uma review será publicada no final da tarde. Protocolos de recomendação no fim desse post.

SÁBADO: VÍDEO

Sim, chegamos na parte legal: o YouTube. Pretendo postar reviews lá também, serão inicialmente bem simples até eu pegar o jeito da coisa.

DOMINGO: DIA INATIVO

Não terá absolutamente nada no domingo, é meu dia de descanso. Não aceitarei recomendações de nenhum tipo nesse dia para não sobrecarregar a semana subsequente.

Ok, hora da parte realmente importante:

AS REGRAS DE RECOMENDAÇÃO

Meio dramático, mas faz parte de entregar o ponto. Enfim, o que eu peço é bem simples, sei que existe uma linha beeeem fininha entre o horror e essas coisas mas eu NÃO aceito: snuff movies, conteúdo altamente ilegal (ex: pornografia de menores), vídeos de assassinato gravados por testemunha e pelo próprio homicida (isso inclui school shooting e variados) e filmes que usam de conteúdo ilegal pra causar choque (ou seja, não peça review de Cuties, Amor Estranho Amor ou Faces Of Death). Tenho pra mim que fazer review de mídia que tenha esse conteúdo fora do campo das notícias é uma imensa falta de respeito com as vítimas e seus familiares, e que a exploração agressiva a prazer próprio desse tipo de conteúdo é cruel e vil.

Também não aceito pornografia no sentido bem próprio da palavra, não enche meu e-mail com link do Pornhub pelo lulz.

Haverão publicações fora isso?

Sim, alguns comentários breves sobre acontecimentos divertidos da minha vida, compras e talvez maquiagem. Pretendo não deixar o blog vazio.

Bem, tendo tudo isso em mente, tenham um ótimo dia e vejo todos semana que vem!!!